Não sou um monge. Só quero sobreviver e fazer o que importa.
- Livia Bueno

- 22 de mai.
- 2 min de leitura
Você já se pegou pensando que, por estar em um caminho de autoconhecimento, deveria ser zen 24 horas por dia? Que não pode mais se irritar no trânsito, perder a paciência com o filho ou sentir aquela raiva quando alguém fura a fila?
Respira fundo. Você está exatamente onde precisa estar.
Existe uma pressão silenciosa - às vezes autoimposta, às vezes vinda de fora - de que quem busca consciência precisa virar um ser iluminado instantâneo. Como se meditar uma vez por semana fosse uma licença para nunca mais ter um dia ruim. Como se ler sobre chakras significasse que você deveria flutuar pela vida em estado de graça permanente.
Mas e se eu te dissesse que sua irritação não é falha no processo, mas parte dele?

Pense na roupa suja. Para limpá-la, você primeiro tem que ver a sujeira, não é? Depois precisa esfregar, enxaguar e, no final, torcer bem forte para tirar toda a água. Esse processo de "torcer" pode parecer violento, mas é necessário para que a roupa seque limpa.
Com nossas emoções, o processo é parecido. Aquela irritação que surge não é um defeito no seu desenvolvimento - é material que precisa vir à superfície para ser transformado. Como a sujeira da roupa, ela já estava lá. A diferença é que agora você tem consciência para lidar com ela de forma diferente.
O autoconhecimento te convida a ser honesto, não perfeito.
Quando você se irrita e pensa "nossa, não deveria estar sentindo isso", está criando uma segunda camada de sofrimento. A irritação original mais a culpa por estar irritado. É como se, ao torcer a roupa, você se castigasse por ela estar molhada.
Então abrace o erro. Receba a impaciência. Acolha a irritação - reconhecendo que ela é sua, que faz parte da sua história, que é um movimento interno pedindo para ser visto e transformado. São padrões emergindo para encontrar a luz.
A diferença não está em nunca sentir, mas em como você se relaciona com o que sente.
Você pode se irritar e pensar: "Que droga, de novo essa raiva besta" ou pode se irritar e observar: "Olha só, essa irritação apareceu. O que ela tem a me ensinar sobre mim mesmo?"
Não somos monges em mosteiros tibetanos. Somos pessoas tentando viver com mais consciência em meio ao caos da vida cotidiana. Temos contas para pagar, relacionamentos complexos, corpos que doem e mentes que não param. E está tudo bem.
O que realmente importa não é a ausência de turbulência, mas a presença de consciência.
Você pode meditar 5 minutos em vez de 20. Pode ter um dia péssimo e ainda assim estar no caminho. Pode sentir raiva e, ao mesmo tempo, estar evoluindo. A vida espiritual não acontece apenas nos momentos zen - ela acontece especialmente nos momentos em que você escolhe olhar para si mesmo com honestidade, mesmo quando o que vê não é bonito.
Sobreviver já é muito. Fazer o que importa, ainda que de forma imperfeita, já é revolução.
E se, em vez de se cobrar por não ser o praticante perfeito, você simplesmente agradecesse por estar disposto a se conhecer? A irritação passa. A culpa por estar irritado não precisa nem aparecer.
Deixe seu comentário se este post trouxe alívio para você.




Comentários