Quando o básico falta, a beleza vira supérflua. Será mesmo?
- Livia Bueno
- há 6 horas
- 2 min de leitura
Em tempos difíceis, é comum escutarmos — ou pensarmos — que beleza é bobagem. Que, diante das urgências da vida, o que importa é o prático, o necessário, o que resolve. E, de fato, há momentos em que precisamos ser objetivos, diretos, funcionais.
Mas será que isso significa que a beleza deixa de ter importância?
A beleza que falo aqui não é luxo nem vaidade. É o capricho que nasce do cuidado. É o detalhe colocado com intenção. É o laço num presente simples, a flor improvisada na mesa, a comida servida com carinho, mesmo quando não se tem muito. Essa beleza é uma forma silenciosa de amor. Ela não é supérflua — é dignidade.

Você sabia que uma das diferenças entre a classe econômica e a classe executiva nos voos, muitas vezes, não está nem na comida, mas nos talheres? Enquanto na econômica recebemos talheres descartáveis, muitas vezes de madeira, acompanhados de um guardanapo de papel, na executiva os talheres são de inox, envoltos num guardanapo de pano, com um pequeno laço. Tudo isso para o mesmo destino, no mesmo avião.
Há quem diga: “besteira, vamos todos chegar no mesmo lugar.”Mas será que não faz diferença mesmo?
Claro que faz. Porque não é só sobre o destino — é sobre a experiência. É sobre como somos recebidos, sobre o quanto alguém se importou. É sobre o valor que se comunica nas pequenas coisas.
Num mundo ideal, todos teriam acesso a talheres de verdade, comida bem apresentada, beleza e conforto em cada etapa da vida. Esse mundo ainda está no campo das ideias.
Mas como vamos caminhar até ele se, aqui e agora, seguimos julgando esse tipo de detalhe como “bobagem”?
Como vou acessar aquilo que eu mesmo considero desnecessário?
Como vou querer mais beleza, mais cuidado, mais amor nos detalhes, se sou o primeiro a dizer que isso não importa?
É nesse ponto que a reflexão aprofunda. Porque quando abrimos mão da beleza, abrimos mão também da delicadeza que nos humaniza. A vida, às vezes, pode ser dura sim. Às vezes o básico realmente falta. Mas talvez, exatamente por isso, seja ainda mais importante não abrir mão do toque bonito, do gesto que acolhe, do detalhe que transforma o ordinário em algo memorável.
A beleza, quando vem do coração, é uma necessidade.
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